quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Depoimento (1)

Fui abusada. É difícil falar assim para tantos rostos desconhecidos mas fui abusada durante toda minha infância. E estou hoje aqui para falar de ódio. Eu cresci sendo rebelde por meus pais nunca notarem nada do que acontecia comigo. Cresci com raiva de tudo e de todos. Todos eram culpados. Aos dezessete anos saí de casa para morar com meu namorado. Eu achava que fazendo aquilo eu resolveria meus problemas... Mas me enganei. Descobri que ele era drogado, agressivo e ainda, roubava para sustentar o vício. Mas como eu voltaria pra casa depois de tudo o que eu fiz com os meus pais? Eu tinha vergonha de retornar. Então fiquei onde estava e entrei numa profunda depressão por ter que aguentar tudo sozinha. Depois de algum tempo tomei coragem para pedir perdão e meus pais me receberam de braços abertos. Numa conversa com meu pai, ele me lembrou dos meus sonhos. Os sonhos eu havia deixado para trás. Um deles era o de ser médica. Mas eu me encontrava muito abalada psicologicamente para ter entusiasmo e correr atrás do meu sonho. Até que, numa conversa que tive com um professor amigo meu, ele me disse uma coisa muito sábia da qual nunca irei me esquecer. Ele me disse que "Todo mundo tem seus sofrimentos, a sua angústia pessoal. Mas o que importa não é isso. O que importa é o que faremos com o que fizeram da gente.

sábado, 8 de setembro de 2012

Melancolia


Intrigada por ver mãe deitada naquela cama o dia todo, decidiu cutucá-la. Não tinha ninguém por perto mesmo.
- Mamãe, você está cansada da sua vida? É por isso que você dorme o dia todo, todo dia? Mamãe?
A mãe de Sofia resistia em olhá-la.
- Mamãe não está dormindo, filha. Está só descansando. Pensando na vida.
Pelo tom de voz, Sofia se lembrou de que a mãe não gostava de que a dissessem que ela passava o dia todo dormindo, ou que não fazia nada.
- Mas você não fica cansada de descansar? A professora disse hoje que o nome disse é tédio... Ela disse que as crianças da minha idade quase nunca ficam com tédio sabe, que elas só ficam com tédio quando crescem e o nome disso é adolescência. Mamãe, você tinha tédio na adolescência?
Então, pela primeira vez, sua mãe virou-se. Sofia notou que seus olhos não estavam colorados como costumam ficar quando as pessoas acabam de acordar. Acreditava mesmo que sua mãe passava as tardes pensando na vida e não dormindo. Aliás desde que haviam - ela, seu pai e sua mãe - se mudado, a mãe andara pensando muito na vida. E seu pai passara a trabalhar em outra cidade, fato este que só permitia-o visitar a família nos finais de semana. Os finais de semana eram os dias preferidos da menina pois sua mãe saía do estado de inércia e voltava ao "normal". Além disso, quando seus pais não brigavam, eles levavam-na ao parque. Se bem que uma vez eles tiveram que sacrificar esse final de semana para ir ao enterro do seu avô. E no mês seguinte, mais uma vez, seu outro avô falecera também. Depois destes acontecimentos, lembrava-se, a sua mãe pensava muito. Desvencilhou-se de seus pensamentos, quando a mãe dirigiu-lhe a palavra.
- Venha pensar comigo, Sofi.
E então deitaram-se.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Pai, quero ser aeromoça

Me lembro de ter dito essa frase ao meu pai quando tinha uns sete anos. E ele me disse que aeromoças são vadias. Não com essas palavras, mas deu a entender muito bem. Então desisti. Eu não queria ser vadia. Decidi que queria ser psicóloga, aos dez. Meu pai disse que psicólogos são loucos. E é claro, eu não queria ser louca. Como é meu último ano no colégio, tenho que decidir o que vou seguir como profissão, e isso tem me gerado muito estresse. Eu queria ser fotógrafa mas nem dinheiro pra uma câmera profissional eu tenho. Além do mais, meus pais querem que eu faça faculdade. Recentemente fiz um teste vocacional, que teve como resultado Psicologia, Publicidade e Propaganda e Jornalismo. Optei por Publicidade, que é o mais relacionado com fotografia. Mas não estou muito feliz com a minha escolha. A ideia de ser aeromoça tem me atormentado na última semana (aliás, não tinha essa opção no meu teste vocacional); tem tudo a ver comigo. Sou poliglota (requisito quase que obrigatório na profissão) e quero ainda aprender muitas outras línguas. Amo viajar (a pessoa que vos fala já rodou quase o Brasil inteiro viajando, além de já ter morado em sete cidades e dois países). Gosto de lidar com pessoas. E, sobretudo, tenho uma paixão misteriosa por aeroportos. Eu não sei o que me atrai tanto nesse lugar. Olho para as pessoas despedindo-se ou mesmo aquelas sozinhas e imagino suas histórias.
Mas ser aeromoça é só um sonho, um sonho que voa alto.